Para quem está disposto a correr mais riscos no mercado financeiro, a especulação é uma alternativa focada no curto e no curtíssimo prazo. Na história das bolsas brasileiras, entretanto, Naji Nahas explorou as características dessas operações até conduzir a bolsa do Rio de Janeiro ao crash.
Considerado uma das figuras de maior impacto das últimas décadas, o empresário aumentou sua fortuna com um esquema que custou o funcionamento de uma bolsa brasileira. Ao conhecer a história, você saberá como isso aconteceu.
A seguir, veja qual foi a trajetória de Nahas no mercado acionário brasileiro e confira os seus impactos!
Afinal, quem é Naji Nahas?
Naji Robert Nahas é um empresário libanês que veio para o Brasil em 1969, com 22 anos. Trouxe consigo uma parte da fortuna da família e, com os recursos, construiu um conglomerado de empresas que aumentou seu patrimônio milionário.
Ele já atuava na bolsa de valores e chegou a ser dono de uma parte considerável das ações da Vale e da Petrobras. Pouco depois de 18 anos de sua chegada ao Brasil, a história de Naji Nahas passou a se confundir com a da bolsa de valores Rio de Janeiro.
Como foi o crash na bolsa de valores do Rio de Janeiro?
Antes de contar como o especulador causou a quebra da bolsa de valores do Rio de Janeiro, vale entender que a B3 (antiga Bovespa) não era a única bolsa do Brasil. O mercado de negociação de São Paulo era o mais relevante, mas também existia a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (BVRJ).
Ao longo dos anos, a BVRJ já tinha perdido um pouco de relevância e prestígio para a antiga Bovespa, que se consolidou como principal ambiente organizado de negociação. No entanto, em 1989 a BVRJ sofreu aquele que seria seu golpe fatal.
Diante de uma bolha especulativa, sofreu uma grande queda e perdeu parte da credibilidade, nunca se recuperando totalmente. Com o crash na bolsa, a BVRJ passou a negociar apenas títulos públicos, a partir de 2000. Após 2 anos, encerrou suas atividades ao ser incorporada pela BM&FBOVESPA.
Qual foi a participação de Naji Nahas na quebra da bolsa de valores?
A quebra das BVRJ não aconteceu de maneira aleatória. Naji Nahas teve grande participação nesse movimento, ao criar a bolha especulativa que levou a bolsa à ruína. Isso ocorreu porque ele começou a realizar operações especulativas com opções das ações da Petrobras.
O trader comprava opções de compra, esperando poder adquirir os ativos por um preço menor. Para ter lucro, entretanto, ele precisaria que a cotação subisse. Então, também começou a negociar ações da Petrobras por meio de suas empresas.
Em alguns momentos, usou até mesmo laranjas. Além disso, investidores seguiam seus movimentos. Quanto mais ele negociava as ações, mais o preço subia. Isso também disparava o efeito manada e quanto mais pessoas passavam a adquirir, maior era a valorização.
Além de tudo, como havia poucas ações da Petrobras no mercado e ele detinha mais de 10% delas, era comum que ele mesmo vendesse as ações para os lançadores das opções. Logo, ele ganhava duas vezes. Durante alguns meses, a atividade foi bem-sucedida e o especulador conseguiu lucrar.
Em seguida, ele decidiu fazer igual com os papéis da Vale. Porém, nesse caso dependia de empréstimos dos bancos para alavancar as operações e conseguir cobrir os custos. Como os créditos tinham uma taxa de juros fixa, o especulador buscava um retorno acima, o que garantiria o lucro.
Cientes das manipulações de mercado, dirigentes da Bovespa convenceram os bancos a não fornecerem mais empréstimos para Nahas — e assim foi feito. Em 9 de junho de 1989, todos os cheques do especulador ficaram sem fundos e as corretoras se recusaram a arcar com os prejuízos.
Nesse cenário, a carteira de investimentos de Nahas foi confiscada, para que as instituições financeiras tivessem as perdas compensadas.
E como isso levou à quebra?
O grande problema para a bolsa de valores do Rio de Janeiro é que essa situação criou desconfiança e apreensão por parte dos investidores. Revelado o esquema de manipulação dos preços no maior jornal de TV do país, as pessoas não sabiam quanto daquela valorização era real.
Então, ocorreu um aumento na intensidade da força vendedora e muita gente quis se desfazer dos ativos ao mesmo tempo. Com uma oferta maior que a demanda, os preços caíram com grande velocidade.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) teve que interferir e não houve pregão por um dia. Depois desse episódio, o destino da BVRJ estava selado.
O que aconteceu com o especulador?
Para evitar que situações como a causada por Naji Nahas aconteçam, a manipulação de mercado para lucrar é considerada ilegal. Logo, era de se esperar que o especulador sofresse sanções legais — e assim foi feito.
Pouco mais de um mês depois, ele foi indiciado pela Polícia Federal, por estelionato e crime contra o sistema financeiro. Também foi multado pela CVM, por ter usado laranjas no esquema.
No entanto, Naji Nahas não passou muito tempo recluso. Após um ano de prisão domiciliar, foi considerado inocente e libertado.
O que Naji Nahas faz atualmente?
Depois de se ver livre da prisão domiciliar, Naji Nahas ainda viu o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) julgar a seu favor, dizendo não haver indícios de crime contra o Sistema Financeiro Nacional.
Com o parecer, Nahas ingressou com uma ação contra a B3, exigindo danos materiais. Parte da sua defesa se sustenta na tese de que foram os diretores e o presidente da Bovespa que deram um golpe em Naji Nahas e em sua fortuna quando solicitaram a suspensão dos créditos.
Em 2008, entretanto, ele foi alvo novamente da Polícia Federal, em uma ação que investigava desvios de dinheiro público. Chegou a ser preso, mas também foi liberado.
Mais recentemente, no final de 2019, passou a ser investigado nos Estados Unidos. A suspeita que recai sobre ele envolve o recebimento de propina da Telecom Italia, com operação no Brasil.
Como você viu, Naji Nahas é um grande especulador que, após manipular os preços de ações para ganhar com a alta, levou ao crash na bolsa do Rio de Janeiro. Agora, você conhece um dos acontecimentos mais famosos do mundo dos investimentos no mercado brasileiro!
Quer conhecer outras histórias e ter novas informações e dicas? Assine nossa newsletter e receba tudo em sua caixa de entrada!